Ser fogo
Ser chama, ser lama, ser vulcânica lava
cratera aberta em dádiva.
Ser mulher a acontecer
em genésicas vontades pontilhadas
partilhadas no prazer
concavo da pedra esmerilada.
Astronave fortuita, avultada em chuva
nos bagos rubros duma romã,
nos odores ébrios dos lagares
a escoarem-se galopantes, em papiros de carmim,
na arqueologia do verbo silenciado e calvo.
Astronaves, navegantes, em escuta.
Do teu corpo, do teu verbo,
convexo no postigo dissídio do teu ser.
Ouvir-te, folhagem estrepitosa,
no assombro,
no trigo brusco, reverdescido.
Na aveia percorrida
nos dedos nus dos insectos.
Alfabetos, rios d’afectos reclinados
em pálpebras entreabertas, respiradas
no hoje. No instante. No talvez amanhã.
Nos desígnios, nos propósitos,
nos signos
justapostos, costurados no papel da pele.
No papel sugado
à machadada na arvore original …
e nele ser fogo
ser chama, ser lama, ler vulcânica lava…
Ser tudo, por fim, cicatrizada a ferida,
na volúpia sagrada, explodida em pirotecnia,
no paralelo poema, na rima e na palavra!
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