Minha terapeuta
Prescreveu uma receita
Pra lá de homeopática
Diria, fantástica!
Aplicações subcutâneas
Que de forma instantânea
Me fariam sentir
Um sol no peito!
Não sei se por acaso
Causa, ou efeito
Num certo fim de tarde
E por toda eternidade
De uma noite inteira
Senti que acontecia
O que a bula dizia...
Fui tomada de calor
Numa súbita, incontida alegria
Antiga é a paixão
E ainda inconsequente
Me acorda, novamente
Com perfume de presente
Sendo a paixão fulminante
Síntese da loucura
É por demais angustiante
E também inconstante
No tempo, pouco dura
Assim, quando o dia muda
O sol já não estava no peito
Estava na cara
O olho ardia, a cabeça doía
A mão, quase tremia
E o coração sob efeito
Do silêncio, chorava
Por fim, na despedia
Aquela frase constrangida
Sem jeito
Que saiu em tom de ferida
Sutil, mas sentida
Doída, profunda
Como a morte em seu leito
Não entendida
Incisiva e aguda
"Foi tudo, quase perfeito!"
E entre a porta do carro
E o portão da rua
Lembrei de Mercê!
Aquela teimosa
Que no peito tem a lua
E que fingindo não saber
O que vai acontecer
Vive a fantasia
Mesmo se a realidade
Sem piedade
Na luz do dia
Lhe acorda fria, nua e crua
Ela