Acordou com alguém lhe segurando. Sentiu o suor da perna, e o pano da cueca do velho. Sim, era velho, a perna flácida denunciava, pensou. Não sentiu os dedos, nem as pernas. Porém, após ponderar um tempo sobre sua estranha situação, constatou o seguinte: notou que havia transformado-se num trinta e oito enferrujado. Depois da fascinante descoberta, imbecilmente questionou-se: "como iria cagar agora? De nada importava isso. Ele agora era um revólver, um trinta e oito enferrujado. Para onde iria?
Visitou um casal. O velho sacou-lhe e gritou: puta véia, puta véia. Logo ocê, Tonin, logo ocê, fazer isso cumigo, sô. Puta merda Tonin. Nois era amigo, sô!
Sentiu que uma das balas, chamada de Paola, logo iria abandonar-lhe. Ele gostava de Paola, ela tinha virado uma bala e ele um revólver. Acho que isso está bem claro. Paola, antes de virar bala - talvez a transformação da jovem não tenha ficado clara - era, outrora, funcionária pública, agora era uma bala rápida. Irônica a vida!
Paola saiu, ele lamentou. Paola entrou na cabeça da mulher. Ele desejou sorte para a amiga. Sentiu saudades.
Destino diferente teve Lívia, que também era uma bala. Adianto-lhes, não era funcionária pública. Lívia falava muito, por isso ele não gostava dela. Lívia perguntava: por quê?, por quê? Fez essa pergunta durante todo trajeto.
Lívia saiu apressada, entrou no peito de Tonin. Graças a Deus, ele pensou.
Depois ele caiu no chão. Acordou, já não era mais um revólver. Era outra coisa, era outra... outra coisa.