Prece
Apenas medo...
Apenas isso,
Desculpas evasivas,
Ansiosas histórias
Brotadas do acaso imediato.
Também eu sinto,
Mas vê-lo em ti
Fez-me ver o outro,
Esse, tão desconhecido como eu.
Há em mim
Uma curiosidade mórbida
De te dissecar;
Decompor-te em partes
Ínfimas e infinitas
Até atingir a matéria
Que te compõe.
Essências de desejo.
Recordo-os como pérolas negras
Brilhantes como se lapidadas.
Na viajem por elas
Haveria uma alma só, escondida.
Andamos numa roda-viva
De desencontros fortuitos,
Movemo-nos na mesma esfera
Em busca um do outro
Sem esperar; por ansiedade!
Talvez deva parar,
Descansar esperando
Que me descubras
Quebrando o ciclo;
Mas e se parares também?
Sinto a tua presença
Acabada de evadir
Em cada sítio que vou.
É já obsessão.
Os teus lábios são já íntimos
E nunca os beijei.
Conheço a tua aura olfactiva
Sem te ter cheirado.
Canso-me de olhar para faces
Desconhecidas por não terem traços teus:
São o único sinal de reconhecimento
Que busco.
Onde estás?
Principias ser um mistério
Já desencantado,
Uma memória longínqua.
16/11/2006