Canto á Galícia
Se tivesse o génio do poeta – que sentir julgo tê-lo quanto baste – crê, oh Pontevedra, que eras para mim fatal tema de inspiração. Um hino de gratidão jorraria do meu estro, de homenagem à cidade que és para mim.
Tens uma história diferente para me contar. Nas tuas vielas muitas vezes centenárias, ecoam ainda velhos passos que foram os meus. Há ressonâncias do meu passar – do nosso passar – num tempo – fugaz tempo – em que a felicidade morava à minha porta. Um tempo, sempre lesto como o vento, em que o sonho estava feito uma realidade que prometia eternizar-se na ingenuidade que nos acompanha quando caminhamos pelo lado de cima da vida.
O granito fez-se jóia nas frontarias das tuas casas apalaçadas, nas tuas igrejas medievais, no lajedo das tuas calçadas. Santa Maria Maior, S.Francisco, La Pelegrina –Oh, la Pelegrina - na inconfundível Plaza Mayor (ou como tal considerada) da velha cidade, onde as crianças e as pombas se confundem no fim da tarde de todos os dias –que esse é o espírito da tua gente.
Vetusta cidade das Rias Bajas, prenuncio de fim de caminhada para quem, vindo de Sul, demandava Santiago, vibra ainda na minha lembrança o tanger grave dos sinos na tua madrugada, enchendo-te de poesia a noite – acalentadora mensagem a harmonizar todas as coisas, a falar-me de outras terras, da minha terra, das gentes que passaram já por estes e outros caminhos integrando o cortejo da vida. Sinos que me falaram num verbo envolvente e universal.
Não sei se volto a ver-te Pontevedra. Nem sei mesmo se quero voltar a ver-te. Prefiro talvez que fiques a morar no mundo das minhas recordações muito caras. Só assim – julgo – continuam a chegar até mim as vibrações e a poesia dos sinos de uma noite que quero perene.
Até sempre, Pontevedra.