Do passado elevam-se negras as sombras.
Como gigantes de tenebrosas faces
que se arrastam medonhos pelas alfombras
em breves e estreitos enlaces.
Do passado mais profundo, elevam-se em riste
as memórias mais pungentes, mais loucas,
e as promessas mais doces, o amor mais triste.
E nós ficamos, sós, perdidos, unidas as bocas
num beijo eterno sem cor, nem tempo,
perdido na mágoa, na dor do desalento!
Perdido do mundo, afastado de nós,
acrisolado no espaço desta vida desfeita,
deste resto que arrastamos, doendo, a sós.
Pedaço de sonho, quimera imperfeita
que do passado se eleva, qual sombra atróz,
selada num beijo eterno e sem voz.