Você vai cantar corações diferentes
Porque o dia mandou canções de gentes
Você vai rezar orações videntes
Porque tudo mudou, razões cadentes
Você vai pelo filho sentado e chorando
Pela mãe perdida , levando a canção
Olha o choro do povo, engrossando o cordão
Cada esquina esconde a verdade
E assim,
Do que não dá p'ra entender
Sim, você paga a passagem e marca o cartão
Você vota no sonho que é bom patrão
Olha a espada, olha o nada de tanta razão
Você pega na terra, nega na pedra a canção
Pela ordem dos hinos, das leis e dos homens
Pelo ouro, pela guerra, pela fome dos filhos
Olha o natal, carnaval e os dias de cinzas
Olha a morte, olha a fé e os copos de bares
Pelo canto latino, pela cruz de madeira sem fé
São manhãs sem guardas e o preso nas ruas
Sim, são canções sem reflexões, embotadas nas gargantas
Sim, é o tijolo na massa e a cadência dos corpos
ë a igualdade da dor que dorme nos povos
Sim, e você dorme ouvindo sempre a mesma mulher
Pela sorte dos homens e das mulheres da rua
Sim, pelo porto na espera do navio noturno
Sim, são os cortes do amor e cicatriz da loucura
São balas e armas esperando pelas vidas
Pelos dedos sem nome que escondem a força
Sim, pelo título sem dono encontrando na forca
O Olhar do sol, novo dia, chegando do chão
Sim, olha a massa secando, prendendo a razão
Sim, Olha o dedo doendo, criando a canção
Sim, e você entendendo o direito, jeito e o perdão.
José Veríssimo
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