GUARDO MANHÃS DENTRO DE MIM
QUE FALAM DE UM OUTRO TEMPO
Como se vivessem um País sem governo
E amassem a um povo sem fome
Andassem pelas ruas de homens-livres
Beijassem filhos sempre mamar no peito.
GUARDO MANHÃS DENTRO DE MIM
QUE FALAM DE UM OUTRO TEMPO
Como se quebrassem as cangas
E soltassem os bois sem nome
Derretessem o anel p'ra vestir a saia
Ligassem o passado se atando ao futuro.
GUARDO MANHÃS DENTRO DE MIM
QUE FALAM DE UM OUTRO TEMPO
Como se não houvessem corbelhas enfeitadas
E acabassem os mortos sem esvaziar os copos
Cantassem nas esquinas, e florissem as grades
Rompessem a ponte e caminhassem o rio
GUARDO MANHÃS DENTRO DE MIM
QUE FALAM DE UM OUTRO TEMPO
Como se voltassem ao fim , sem dor
E prendessem a força sem absolver a lei
Dividissem o ser p'ra doar o peito
Rezassem um hino amassando as mãos
GUARDO MANHÃS DENTRO DE MIM
QUE FALAM DE UM OUTRO TEMPO
Como se descerrassem a porta e contassem o cordão
E liberassem a massa sem amassar o pão
Andassem no dia, e viajassem na mente
Resguardassem a terra, plantando a semente....
... DAS MANHÃS QUE GUARDO DENTRO DE MIM.
José Veríssimo