Foi lembrado o centenário da grande Carmen Miranda.
Também nasci no Marco de Canaveses,
como ela, só que 30 anos depois, em 1939 .
Muito me surpreendeu e alegrou o destaque
que todos os media deram a esta efeméride.
Aqui pude rever os meus tempos de menino,
pois fui nascido e criado
numa aldeia semelhante àquela,
embora noutra freguesia...
Na terra da Carmen Miranda,
corre um ribeirito chamado Rio Ovelha,
que deu o nome à freguesia de Várzea da Ovelha,
Na minha terra corre outro
( onde aprendi a nadar) que se chama Rio Odres...
Em 1909…
O Barbeiro de Várzea de Ovelha era o Zé Pinto,
cujo nome completo era
José Maria Pinto da Cunha,
longo demais para os vizinhos…
nas aldeias abrevia-se tudo.
Um barbeiro na zona do Marco de Canavesas,
naqueles tempos tão recuados,
não possuía qualquer barbearia…
deambulava de porta em porta
com o seu estojo de barbear,
que além de navalha,
do pincel, do sabão e do amolador,
ainda continha um alicate especial
para arrancar dentes…
Na minha freguesia, o barbeiro,
senhor Alexandre,
também capava frangos,
ofício que ensinou e passou para a minha mãe…
Muitas vezes ajudei nessa tarefa.
Os Barbeiros eram pagos ao ano
em medidas de cereal, malgas de feijão,
uma por cada espécie
e ainda umas “ quatro canadas” de vinho
(pouco mais que um litro)
Quase todas as famílias tinham a sua hortinha
onde cultivavam as hortaliças e alguns cereais…
No curral, o porquinho ia engordando,
com os restos da cozinha
que numa pia de granito,
eram misturados com abóboras amarelas
e algum farelo que vinha do moinho.
Não duvido que o Zé Pinto
não tenha escapado
a esta carestia de meios de subsistência.
Tal facto esteve na origem da decisão
que tomou de emigrar para o Brasil
que então era o destino mais apetecível.
Minha mãe tinha doze irmãos.
Dez emigraram:
Dois para Moçambique e oito para o Brasil.
O que se passou depois
com o Zé Pinto e a filha
Maria do Carmo Miranda da Cunha
(que passou a ser Cármen Miranda),
já é do conhecimento de todos.
Mas julgo que nem todos sabiam
como se vivia em Várzea de Ovelha
no fim do século dezanove
e princípios do século vinte.
José Mota