Misturei um pouco de sorte
Na poeira vinda viva do Norte
Desci de burro, caminhão
Meu trote era o medo de não chegar
Brisa-morena, palavra dita ternura
Abriram meu peito pro vento da manhã...
Sangue rasga pé na estrada
Aquele gosto de procura cala na boca
Beijava o incerto olho vermelho
O aço frio era punhal, punhal do tempo
Atravessando meu peito cantador
No canto de guerra, canto amor vencedor...
Dava hora do almoço – como pensava
Vida assim tem que mudar – chorava
Punha o ontem nas costas e partindo
Meu canto balançava o universo
Mudando estradas pra novo horizonte
Manhã-noiteira acorda redondas pedras...
Poeira, brisa seca o tempo
Já não tenho mais o norte pela frente
Tenho a ordem dos olhos
Liberdade-quadro-norte, e vou seguindo
Na Lei de lá, cada um sofre sozinho
Adiando a morte com grito de canção...
Depois do canto lama trava a vida
Chego cedo caminhada, penso perdido
E no caminho eu encontro a brisa
Companheira da estrada, lá ficando
Vou chegando e danço sozinho
Vida tem que sofrer para mudar a sorte...
Poeira brisa, canta o almoço
Barra do norte canta o dia pra melhor, brilhava
Eu de novo na janela poeta pensando...
Levando quem veio pra ficar
Salve o norte que ficou pra trás
Salve o lado de lá, de onde venho
Quero ver aqui, como vai ficar...
José Veríssimo