Não sou apenas eu que me mascaro.
São infinitos aqueles que apenas fingem.
Não só apenas escondemos a cara,
Mas sim fingimos uma vida inteira.
Não que se goste da falsidade e da hipocrisia
Nem que se desgoste da sinceridade e da verdade
Mas é a liberdade o que mais se presa.
Dizendo a verdade,
Quantas vezes se é feito de bobo.
Enquanto que mentindo a própria vida,
Cria-se uma cara feita para apanhar,
Pois que a verdadeira nunca se dá para bater.
Cria-se dos eus, assim,
O eu para os outros,
Acumulado de dons sociáveis,
É este o eu da conversa e da civilidade,
Que cumprimenta, que agradece e que perdoa.
Por trás deste, contudo, há o outro,
Mesquinho, egoísta, nocivo,
O eu mesmo, o eu das segundas intenções,
Que não filantropia, nem sociabiliza,
Que finge sentimentos vários,
E como quer molda o eu que é para os outros.
Há mitos e heróis e santos,
Mas há também loucos
E uns são os outros.
Pois que do mito, do herói, do santo,
É visto o eu que é para ser visto,
Pois que do eu submerso não se entende a lógica,
E dos loucos, vê-se o que não deveria.
Pois que não loucos, e sim encobertos,
São eles eus profundos que se desmascaram.
Poema de meus 18 anos, quando comecei a ler Fernando Pessoa, o que muito me ajudou a encontrar palavras para me expressar.