Eu pensava que te tinha. Que te tinha... Aqui, reconfortado nos meus braços; lá, prendido aos meus pensamentos; longe, livre mas agarrado; calado, mas surdo pelas saudades que gritavam aos teus ouvidos. Pensava que bastaria qualquer palavra para te fazer voltar a mim, qualquer sussurro para que um arrepio te despertasse do teu sono inconsciente, qualquer canção entoada com a voz de quem gosta e de quem sempre quer mais. Pensava...
É como sentir a tua mão sobre o meu ombro, mesmo sabendo que já não estás. É como sentir um quente abraço teu, quando sei que tenho agora o corpo nu, ao vento. É como sonhar que te olho nos olhos, quando à minha frente apenas tenho vazio. É como sentir que ainda te tenho, quando sei que isso foi de outra vida. Transformas o meu riso num choro compulsivo, numa sensação de solidão imaculada, num fogo apagado, ainda com o ténue cheiro a fumo.
Fui andando, por essa estrada fora, sem ligar à tua sincronização forçada com os meus passos. Fui caminhando, porque te queria, mal ou bem, ao meu lado; porque precisava, a cada momento, da tua respiração quente no meu pescoço, do teu abraço sentido, dos teus olhos que me percorriam o corpo e que, quando se fixavam nos meus, me faziam sentir que tudo estava bem. Às vezes, ficava sozinha, durante a noite, sentada na minha cama, a olhar o vazio, a desejar a tua companhia, pelo menos a tua voz, a imaginar o reencontro fugaz dos nossos corpos cansados, mas habituados. Ficava pensativa, até que a buzina de um carro apressado, que vagueava na rua escura, me despertava destes pensamentos alheios. Acordada. Ainda o estou. Sonhando ingenuamente com esses dias confusos.