Compreendes o sentido da minha presença?
Explica-me a charada que o tempo deixou.
Porque, Onisciente,
Queria-me por perto?
Que contribuição este tolo
Poderia deixar para o que já é completo?
Castigaste-me pela inocência,
Pela culpa de crimes sem lei?
Vigiaste-me em dias para mim obscuros
Para cobrar-me
Quando não tivesse mais os motivos em mãos?
Cego, surdo e mudo
Aprendi ao tatear o espinho.
Ou seria o amor...?
A doçura da criança em braços paternos
Não comenta a épica batalha da idiossincrasia.
Seria a tua imagem,
Mas eu queria ser mais,
Queria ser você!
Mas negaste-me o dom
E me cedeste o fardo...
Seria meu corpo a prisão do meu ser?
E o segredo é buscar a antítese da vida?
Devo negar o desejo,
Pois a plenitude está
Em não se completar a carne...
Todos esses abrigos de fumaça
Desfazem-se ao primeiro vento
E a segurança se vai
Quando imploro por tua resposta
E percebo
Que o meu coração é quem responde.
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros