paulo monteiro
chegaste na manhã calma
como um pássaro ferido
que a chuva houvesse molhado
tremias e os olhos trêmulos
os olhos tremeluziam
como gotas de sereno
brilhando em terra lavrada
onde cresciam espigas
do trigal dos teus cabelos
plumas e espigas molhadas
frio de ave e cor de trigo
água de chuva no rosto
água de sanga nos lábios
cheiro de terra lavrada
por arados de volúpia
violência de sentimentos
e uma esperança violenta
sob um frio de passarinho
e louro trigo à espera
do afago de um ceifador
aqueci-me no teu corpo
que outras mãos enrijeceram
colhi teu trigo dourado
e ensilei-o no meu peito
e à solidão daquele
que dá o pão que lhe falta
dei de beber nos teus lábios
água de sanga bebi-te
acostumada aos rigores
da chuva a ave fugiu
acostumado à bruteza
o trigo não quis cuidados
aos musgos acostumada
a sanga fugiu-me aos lábios
ou lhe agradei de tal forma
que me julgando maior
do que sou sumiu-me aos pés
terra lavrada ave trêmula
hei de guardar o teu gosto
água de chuva no rosto
água de sanga nos lábios
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos