A pugna entre corpo e alma
É a fantasia lúcida
E o brinquedo torto
Das divindades.
Carrego as marcas das trincheiras
Cada cicatriz aponta o rumo,
Dita a escolha viciada
Da liberdade.
O que quero
É o que não faço.
Como arrancar as cicatrizes?
Como desatar as amarras?
Devo enfrentar mais uma vez
O punhal que fincou a carne
Olhar o brilho da lâmina
E experimentar a dor
Como o emplasto.
Ah! Santa moderadora dos desejos-
A Dor-
Purifica este espírito
Tão carnal
Quanto o desejo ganancioso
Do Demônio.
Cortarei a carne mais uma vez,
Espontaneamente,
Como sempre foram as marcas do meu corpo.
Mas agora refugiar-me-ei
No gole do Absinto
Embriagado pelo doce sabor da Cura.
Enfrentarei o suicídio e o assassínio
Como a dois bons companheiros
De conselhos dúbios e proveitosos.
Devo ter coragem...
Afasta de mim este cale-se!
Já não basta todo o sangue derramado
Para que eu estivesse aqui?
Tenho que continuar
E suportar a síncope,
Essa esmola para aturar a mutilação.
Talvez quando eu acordar
O mundo tenha mudado...
Pelo menos o meu.
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros