Hoje não quero escrever nada
Minha memória está vazia
O coração diz pra eu ficar calado
Os olhos me levam a lugar nenhum
Não sinto nem a falta de alguém
O sangue corre calmo em minhas veias
O calor do meu corpo está normal
Minha boca está seca e isto é anormal
Minhas pernas não tremem, estão firmes
As mãos cheias de ar apertam o incerto
Os pés não querem carregar meu corpo
Perderam o caminho, me deixaram parado
O acaso rola em minha frente em forma de anjo
Nem do cartão me lembro mais, menos das flores
Vou subir pelas escadas, contar os degraus
Ocupar minha mente, não me lembrar de nada
Mesmo assim não quero escrever nada
O coração está vazio e a mente calada
Acredito no acaso e em casos de fada
Esqueço dos amantes, flores rasgadas
Nem sei por que isto acontece agora
Pensando bem, os dias são repetições
De lições que vimos e não aprendemos
Mesmo assim, ensinamos pras pessoas
Agora bem no fim deste texto foi que percebi
Que escrevendo a gente nega o contrário
São fatos reais o que trazemos por dentro
E às vezes irreal o que mostramos no rosto
Hoje, mesmo não querendo escrever nada
Revelei escrevendo a fotografia do agora
Vou moldar meu corpo e ao mundo mostrar
Que nada é o acaso que dorme no colo senhora
José Veríssimo