Ontem fui agendar os exames médicos, de praxe, dos cardiopatas e peguei a maior fila que tenho lembrança nessa minha existência. Tinha-se a impressão que toda a cidade ficara doente.
Pois bem, lá estava eu, na fila e em meio daquele vozerio que mais parecia uma ladainha de procissão e, eis que me acode a lembrança um caso parecido e acontecido com Manuel Bandeira, que me ajudou enganar o tempo.
Contou-nos, Manuel, em Flauta de Papel (1957), que também estava numa fila daquelas, numa tarde de sol quente, como as tardes que temos enfrentado, quando passou por ele Alceu Amoroso (católico convicto), e lhe informou: — Hoje é dia de S. João Crisóstomo, cuja principal virtude era a paciência.
Foi água na fervura. Manuel se agarrou com o santo e, até chegar à boca do distante guichê, foi enganando o tempo a recitar mudamente uma improvisada ladainha, que também não hesitei em repetir (o que me veio à lembrança):
Meu São Crisóstomo, dai-me paciência para nesta fila aguardar a minha vez com humildade e bom humor.
Aliás, dai-me também paciência para aturar outras filas desta cidade duplamente superlotada, principalmente, a mais iludida de todas, a qual é a dos que ainda esperam melhores dias para o Brasil.
S. João Crisóstomo, dai-me, igualmente, paciência para não dizer um palavrão quando nas festas de aniversário começam a cantar o Parabéns a você.
Meu bom S. João Crisóstomo, dai-nos paciência para ler até o fim os jovens críticos desta geração, porque os poetas, alguns me parecem ótimos, mas os críticos são de amargar.
Meu S. João Crisóstomo, dai-me a paciência de sorrir aos que me procuram para pedir a minha opinião sobre poemas de sua autoria ou da autoria do diabo que os carregue.
E acrescentei:
S. João Crisótomo, dai-me muita paciência para agüentar a arrogância dos políticos e politiqueiros, o caos do trânsito à hora do rush, e outras calamidades.
Mas não me dê paciência para suportar o BBB!
Isso é demais! ®Sérgio.
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
RSérgio