Antes que perca as palavras, antes que apodreça esta verdade nas ruas frias e molhadas pelo sal de tantas lágrimas, deixa que te escreva com as mãos da distância a perturbar-me os sentidos, deixa que te escreva a perda.
Não sei se sabes o quanto custa perder alguém, é doloroso saber, saber que não mais verás um rosto, não mais ouvirás umas quantas palavras que te reconfortavam e te enchiam de vida, não mais saberás das formas que te moldavam a verdade, não mais, agora e sempre! É doloroso demais entender que tudo o que demos, até nós mesmos, se vai assim com o tempo e com a mudança incontrolável de tudo, dói deveras, dói essa azeda certeza da perda.
Sei que não te perdi ainda, sei que não te perdi, por isso te digo estas centenas de palavras, porque sei que precisas de ouvir antes que te deixes cair nas buracos da perda, antes que te deixes ir pelos caminhos vorazes do sofrimento em mim.
Deixo-me envolver pelos dias e dias que me cobrem de chuva, molho-me toda, antes que partas tu também deixa-me envolver-te com os meus braços, é tudo tão fugaz e tão breve, tudo tão efémero, deixa-me eternizar o que sinto, deixa-me por um momento que seja tornar real o sentimento que carrego no peito…
A vida quer que eu parta também, quer que tu também me deixes. Não saberei deixar-te ir, não saberei eu partir! Quero-te tanto… Quero-te tanto que perdi a conta às horas que passo pensando como tudo poderia ser diferente se tu estivesses aqui, se eu estivesse aí ou se soubéssemos cortar ao meio esta distância que teima em fazer-se notar.
Talvez até não saiba o que estou a dizer, vives em mim, és em mim, como poderei eu perder-te? Mas infelizmente já tanta gente que amei, tanta gente… tanta…
Não quero que sejas mais um, não quero que vás como tudo aquilo que vejo ir em meu redor, quero que fiques uma Primavera, outra, outra, até não mais ser possível aos meus olhos e aos teus distinguir as Primaveras porque tudo passará a florir nos nossos olhos.
Não quero perder-te… Não a ti! A ti não!
. façam de conta que eu não estive cá .