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Traumas da infância

 
Traumas da infância


Antônio Antunes Almeida



-Papai:
-Você papai é um cara forte, não é?
-Eu sei disso. Tanto é verdade que morro de medo quando escuto você guardando o seu carro e quando garagem vai se fechando eu já começo a tremer.
-Você também é muito nervoso, não é? Os seus gritos e os da mamãe me deixam desorientado e assustado.
-Você já notou que me bate com muita força, que chego a ficar marcado. Sem falar nos cortes e nas costelas que já foram quebradas pelo seu ódio. Parece que você, a mamãe, destilam toda sua raiva em mim, depois me levam ao hospital e dizem que eu caí ou me cortei. Mas vocês não contam que foi a quina do armário onde eu fui jogado que quebrou minhas costelas e o cabide com o qual me bateram o causador dos cortes. O pior é que não posso falar nada! Tudo isso ficou gravado na minha memória e os anos estão passando, mas nunca deixo de recordar todos esses dias de dor.
-Eu tenho muito medo de vocês! Mas sou obrigado suportar. Os dias passam e nada melhora, pois continuam os mesmos: terríveis e nervosos.
-Acredito que a criança deva ser realmente repreendida com moderação na hora certa. Mas não da forma que fazem.
-Eu sou uma criança e muitas vezes, faço realmente coisas que não devia; mas mesmo assim a maioria destas estripulias é menor do que o barulho dos seus gritos.
-Papai, você já notou o tamanho da sua mão perto da minha? Ela é muito maior, no entanto você não se importa de me bater com ela. Muitas vezes quando eu choro e você diz: nem um pio!! Não significa que eu esteja chorando só por causa da dor da palmada, eu choro porque eu sinto você um covarde, nunca desconfia do seu tamanho e nunca nota que sou pequenino demais e não posso me defender.
-Você pode com certeza me espancar, me jogar na parede como você sempre faz, bater com a fivela do seu cinto, espetar com o garfo minhas pernas, dar murros na minha cabeça, beliscões, chutes e muito mais! Apenas uma coisa você não irá conseguir: apagar da minha memória todo trauma criado. Sei que isto irei carregar pelo o resto da minha vida. As marcas na pele quando um dia for adulto eu poderei removê-las em algum cirurgião plástico, infelizmente as feridas da alma jamais serão cicatrizadas.
-De que adianta você me espancar só porque não consegui fazer a tarefa escolar. Falar aos berros nos meus ouvidos que eu sou um burro. De que adianta me traumatizar se eu não consegui entender a matéria! Quem sabe se no lugar dos gritos e dos tapas, falassem baixinho aos meus ouvidos; me ajudando com amor nas dúvidas que me dificultam! Quem sabe se assim fosse eu teria menos medo de vocês, e conseguiria aprender a matéria e ser feliz como outras crianças.
-Imaginem no dia das crianças, quando vocês vão à escolinha e sorridentes ficam me abraçando, como se nada tivesse acontecido. Tentam mostrar para todos que são carinhosos comigo, dizendo que eu sou um encanto de criança. Ai a minha cabeça confunde todinha. Quantas vezes me batem porque dizem que eu menti e que é muito feio mentir. Somente queria conseguir entender: mentir é só para adultos?!



 
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