A cadeira.
Sentada na minha cadeira escrevo sobre a minha mesa, olho vezes sem conta para ver se alguém olha em volta. Não vejo viva alma, apenas um horizonte, um mar , um rochedo, algas marinhas e ondas do tamanho do céu. O mar está bravio, as ondas enraivecidas batem fortemente nos rochedos, e os rochedos desgastam-se. E eu sentada na minha cadeira vejo tal fotografia, olho para trás onde se coloca a minha janela fechada com grades, como me sinto tão prisioneira. Se ao menos a minha cadeira tivesse rodas, se ao menos pudesse rodar mais à esquerda ou à direita, o que eu não via..À minha esquerda veria a minha casa, de cor branca com árvores em volta, um pequeno jardim com rosas perfumadas, via a Primavera. Não preciso de calendário, os dias não tenho pena deles… que sejam muitos e cheios de sol, que sejam grandes e luminosos, e verdadeiros, algo que já não sinto há muito tempo. Que tempo! Que não para de chover!
Da minha direita vejo pessoas, vejo igrejas, vejo santos e padres, meninos brincando, meninos sorrindo, outros chorando. Vejo caminhos que dão a outras ruas, vejo novos nomes escritos nas placas, comboios cheios, carros apressados, não vejo gente parada,
Vejo só gente que foge quase correndo pois a madrugada se apressa a chegar, vejo a noite cair, o sol fugir. Já é mesmo noite tenho que daqui sair. Saio da minha cadeira, por umas míseras horas, segunda tenho de voltar. Hoje é sexta já chega de trabalhar!
“Se ao menos tivesse rodas”
Iolanda Neiva
Iolanda Neiva
(muitas vezes falo só para mim,
e escrevo para que alguém me ouça)