As flores exalam um perfume de morte,
As flores estão mortas,
Não há flores em meu jardim,
Flores que outrora
Trouxeram charme a minha existência
Existência sem gloria
Sem honra, sem pudor...
Flores que trouxeram
O amargo cheiro da luxuria,
Luxuria dos meus dias insanos...
Flores que adocicaram
Os lábios dos beija-flores...
Flores que a vida
Trouxeram um colorido diferente,
Colorido de flores...
Flores que feriram...
Flores que se deram a amantes,
A paixões impúberes,
A amores platônicos...
Flores que se misturaram
Com o azul do céu,
Com o brilho do sol,
Com a face da lua,
Com os orvalhos das madrugadas,
Com a embriagues dos apaixonados,
Homens da noite...
Flores que alegraram
As manhas dos trabalhadores,
Os passeios matinais...
Flores que se fizeram descobrir
Nos olhares das crianças...
Flores que já não são mais flores,
Expectros de flores,
Resquícios de flores,
De vida e de sonhos,
Resquícios de mim...
"Há poemas ininteligíveis nos seus elementos, porque só o poeta tem a chave que o explica; mas a explicação não é necessária para que pessoas dotadas de sensibilidade poética penetrem na intenção essencial dos versos"
Manuel Bandeira