Cheguei agora a casa, depois de atravessar o mar e de sentir o gosto do sal salpicado na minha pele. Não sei o que escrevo, nem nunca o soube, nem tão pouco mo mostraram. Escrevo, enquanto sinto, palavras a pulsar de sangue vivo que me enchem o mundo debaixo da pele. Esqueço-me de pensar e talvez seja melhor assim. Deixem-me que me apresente: sou um sentimento de várias cores a passear ao vento, uma cor ainda sem nome a cair pelo reflexo das gotas de chuva.
Assim, cheguei a casa, logo depois de me levantar do muro feio, cinzento e frio junto ao mar, nascido de uma estranha confusão de betão.
O meu cachecol empurrava-me para o mar (sim, estava frio). Sorri (já repararam que sorrio muitas vezes, sem saber porquê)e deixei a serenidade percorrer-me o corpo, de cima a baixo,até às entranhas, até chegar ao coração (foi quando sorri, já sabem). Como se estivesse no meio da multidão (nunca estou sozinho no meio da multidão), a colher sorrisos como quem colhe flores, a colher palmas das mãos como quem agarra a areia molhada, a distribuir palavras como quem quer distribuir alegria. Como quem fecha os olhos e sente cada segundo a passar como se fosse magia.
Talvez seja amor...