Era uma escola pequena a 50 metros da minha casa. Aqui não saltava o muro. Já nem podia fugir para roubar mangas ou goiabas. Saltei umas quantas vezes à entrada na escola. Os mais velhos tinham a tradição de praxar os mais novos. Até o Professor de Educação Visual (Desenho, na altura) foi praxado. Tinha uma carinha de menino e…!!! Tive que usar óculos durante um ano. Eu e o Ricardo éramos os melhores alunos da turma. As bagagens que trouxéramos de Angola deram um avanço considerável. De África veio também o tom canela da pele, o gosto pelo imenso e solitário, o gosto do bago de café colhido do cafeeiro na boca e na língua. Mas veio também a saudade de voltar. Um dia… Voltei também o ano passado a Lagos. Lembram-se do acampamento em Lagos? Viagem no comboio-correio até ao Algarve. Cheiro a suor e mercadorias sem sabor nem volume, apenas caras. Acampamento no campo do Esperança de Lagos e tratamentos de água do mar diários na Praia do Barranco. A única onde se fazia nudismo em Lagos. Conhecemos umas norueguesas ou dinamarquesas, já nem me lembro. Sei que foram dias inesquecíveis. Comíamos melão, sumos e sandes todo o dia. Eu, o meu Fernando e o Marcelino. Duas tendas canadianas. Cabiam em cada tenda um rapaz e uma rapariga. Dois rapazes já não cabiam. Noves fora!!! Na praia teremos feito algumas vezes um buraco na areia para nos deitarmos de barriga para baixo. Era a única solução para não darmos nas vistas. As dinamarquesas ainda nos mandaram umas fotos algo comprometedoras que se terão perdido algures. Foi nessas férias que o Marcelino abriu uma ferida na mão quando tropeçou na espia da tenda. Hospital de Lagos, amigo estudante de enfermagem e o resto das férias disfarçado de Camões a nadar de saco de plástico na mão. Foi também depois dessas férias que eu e o Marcelino chegámos a casa sem dinheiro e o Fernando com 5 contos, rapaz poupadinho, mas a dever dinheiro a nós os dois.