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Assim nasce uma paixão!

 
...Num aborrecido dia de chuva, em que o céu se encontrava cinzento e a claridade, embora ténue, teimava em esconder-se mais cedo para dar lugar à escuridão, que nesse dia parecia ser mais negra, facto que derivava do ar "casmurro" com que o céu nos brindava, encoberto por uma imensidão de nuvens que "choravam" intensa e continuamente, qual viúva a chorar pelo seu amado marido.
Encontrava-me instalada (mal instalada, por sinal...) num desconfortável e severo banco de centro de saúde, característico dessas instituições públicas, de cor acinzentada semelhante ao sofrimento de quem por lá passa.
Um desses bancos envergava um amontoado de revistas, de livros de banda desenhada, de folhas soltas...Ao observar com atenção reparei que tanto os livros como as revistas eram antigos, desactualizados, para além de que a maioria das revistas não tinha capa e estavam rasuradas. Na altura pensei: " Isto é certamente obra dos meninos e meninas enfadados pela doença e pelo tempo de espera, em que os pais partilhando do mesmo aborrecimento não são capazes de os ensinar que aqueles livros e revistas estão ali para os distrair, para os ajudar a passar melhor o tempo, mas a lê-los, a ver as imagens...Nunca a estraga-los, rasga-los como forma de distracção."
Contudo, decidi aventurar-me numa missão que previa quase impossível...Encontrara algo que se tivesse mantido intacto aos ataques dos miúdos e graúdos.
Mexi, remexi e tornei a remexer..."Alto!" Qual não foi o meu espanto quando encontrei uma revista, embora sem capa, encontrava-se em óptimo estado de conservação. Comecei a folheá-la, a ver as imagens, a ler alguns artigos mas, parei para espreitar com algum cuidado uma folha em que do lado superior direito( ou esquerdo? Já não me recordo...) aparecia uma fotografia a preto e branco de um senhor, na casa dos sessenta anos(pensei)de cabelo branco e rosto sério..."António Lobo Antunes" podia se ler por baixo.
A leitura àquele texto começou. Já tinha reparado que se tratava de uma crónica, mas agora não me recordo do título...Sei que a dada altura o senhor escrevia sobre um “bom e velho amigo” de tropa que havia falecido e que lhe deixava uma angústia, uma tristeza e uma saudade avassaladora. ( e isto fui eu que conclui, após a leitura). Escrevia sobre excertos do seu tempo passado em Angola, junto dos seus “camaradas”.
Achei aquele relato fascinante, comovente, de uma sinceridade sem par, era possível, até, através dele sentir quem o escreveu.
Entretanto, e sem dar pelo tempo passar, fui chamada pelo médico…Pousei a revista da qual, religiosamente, guardei o rosto e o nome de quem escrevera a crónica: António Lobo Antunes.
Foi através destas maravilhosas e contundentes crónicas que nasceu a curiosidade relativamente ao senhor António Lobo Antunes.
Crónicas essas, que nos embalam através da melodia silenciosa com que nos brinda cada frase escrita por si.
Sei que o vulgar é conhecer primeiro um livro, desvendá-lo e depois o seu escritor. Comigo tudo se passou de forma diferente, conheci mais profundamente o escritor, o ser humano que se esconde por detrás de cada frase escrita…”apaixonando-me”.
Mas,” como o amor não se procura, encontra-se”…assim o encontrei num imprevisível montão de folhas.
Gostaria de escrever mais…sobre as suas obras, por exemplo, mas ainda sou alheia a elas. Conheço os títulos, leio a crítica se pronunciar sobre ela, mas ainda não tive o privilégio de me “perder” nos meandros da sua melodia, nos mundos idealizados por si, mas que são “ o nosso mundo” Como tal, espero em breve escrever algo sobre um dos seus livros.
Com todo o respeito e admiração
Até sempre!

 
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C.S.P.C
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/10/2014 21:36  Atualizado: 24/10/2014 21:36
 Re: Assim nasce uma paixão!
realmente ele é um escritor extraordinário,tenho alguns livros dele q releio sempre q posso,curti muito suas palavras,q mostram q vc é uma pessoa atenta e sensível.