Poemas -> Fantasia : 

[ o corvo persegue-te ]

 
Corvo pousa silencioso, despercebido
Assistindo o caminhar no escuro
E como um lenço sobre os ombros
Como neve que envolve um muro

Levanta voo tomando direcção
O negrume da mata que o envolve
O passo aumenta com a pressão
O medo surge e não resolve

Ele pousa, e numa espera congelada
Observa-te friamente, espreita
Parece estar a seguir-te
Aguardando a sua colheita

Aceleras o ritmo, cresce receio
Invade-te um calafrio cristalino
O lusco-fusco que desaparece
E tu anseias o teu destino

Tentas em tormento agarrar
Procuras novamente a ave
Enquanto ainda estás a andar
Precisas de encontrar a chave

Esse maldito buraco no bolso
Que me esqueci outra vez de coser
Não sabes como a vais encontrar
Em desespero começas a correr

Os pensamentos estão a fugir
Surge o pânico em seu lugar
Impedindo-te de descobrir
Como ao fundo do bolso chegar

Consegues atingir a entrada
Reparas num vulto a passar
Os tremores invadem-te o corpo
Nem sequer te atreves a olhar

Ouves então aquele som
Sabendo que são asas a bater
Sentes que algo se aproxima
Apercebeste do seu poder

Eis senão que aquele corvo negro
Pousa abruptamente ao teu lado
E num movimento repentino
Que te deixa ainda mais assustado

Baixa a cabeça aos teus pés
Consegues ver o seu bico aguçado
E ouves um barulho estranho
Que te deixa muito intrigado

Aquele assustador animal
Aquele barulho de metal grave
Sem te querer fazer nenhum mal
Largou ali mesmo … a tua chave


Blackbirds like small priests walked in the silent fields.

[ wilderaven @ lusopoemas ]

 
Autor
wilderaven
 
Texto
Data
Leituras
1269
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
1 pontos
1
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 10/04/2009 14:20  Atualizado: 10/04/2009 14:20
Colaborador
Usuário desde: 02/04/2009
Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: [ o corvo persegue-te ]
Lembrei-me de "o corvo" de Edgar Allan Poe ao ler este textos. Eu diria que é um conto-poema - muito do meu agrado e que nem tudo é o que parece, ou talvez pouco seja aquilo que parece... Oportunidade para enviar um abraço desde Caldas, com votos de PaZcoa Feliz! Abílio