Corvo pousa silencioso, despercebido
Assistindo o caminhar no escuro
E como um lenço sobre os ombros
Como neve que envolve um muro
Levanta voo tomando direcção
O negrume da mata que o envolve
O passo aumenta com a pressão
O medo surge e não resolve
Ele pousa, e numa espera congelada
Observa-te friamente, espreita
Parece estar a seguir-te
Aguardando a sua colheita
Aceleras o ritmo, cresce receio
Invade-te um calafrio cristalino
O lusco-fusco que desaparece
E tu anseias o teu destino
Tentas em tormento agarrar
Procuras novamente a ave
Enquanto ainda estás a andar
Precisas de encontrar a chave
Esse maldito buraco no bolso
Que me esqueci outra vez de coser
Não sabes como a vais encontrar
Em desespero começas a correr
Os pensamentos estão a fugir
Surge o pânico em seu lugar
Impedindo-te de descobrir
Como ao fundo do bolso chegar
Consegues atingir a entrada
Reparas num vulto a passar
Os tremores invadem-te o corpo
Nem sequer te atreves a olhar
Ouves então aquele som
Sabendo que são asas a bater
Sentes que algo se aproxima
Apercebeste do seu poder
Eis senão que aquele corvo negro
Pousa abruptamente ao teu lado
E num movimento repentino
Que te deixa ainda mais assustado
Baixa a cabeça aos teus pés
Consegues ver o seu bico aguçado
E ouves um barulho estranho
Que te deixa muito intrigado
Aquele assustador animal
Aquele barulho de metal grave
Sem te querer fazer nenhum mal
Largou ali mesmo … a tua chave
Blackbirds like small priests walked in the silent fields.
[ wilderaven @ lusopoemas ]