Paulo Monteiro
Um dia me levavas pelas mãos e eu te pedia:
– “ Pai, pára, que eu não agüento mais!”
Outro dia, em que minhas mãos te conduziam,
Exclamaste:
– “Pára, meu filho que estou cansado!”
Cansar, meu pai, sempre cansaste,
Mas agüentas todos os pesos,
Suportas todas as caminhadas...
De ti, quando nos separarmos deste mundo,
Guardarei as lições que me deixares,
Lições que espero legar às minhas filhas.
Não me pedes. Ordenas.
Ordens duras, às vezes.
Ordens que me fazem afastar-me cabisbaixo.
E chorar baixinho.
Nem sempre consigo entender-te.
És tão duro contigo.
E é mais duro para entender-te,
Pois o bugre que guardamos em nossos peitos
Luta constantemente com nós mesmos.
10 de agosto de 2007.
Nota do autor: Pedro Mendes Monteiro faleceu repentinamente, aos 87 anos, no dia 18 de novembro de 2008.
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos