A toda a volta, do jardim, remexendo
o chão, à sua passagem, pássaros
buscam sementes de flores, caídas aqui
e ali, que lhes vá saciar a fome, da
renascida manhã, numa confusão, de
canto e de asas, mostrando o peito, em
tom desafiador, a todos os que se
atrevam, a invadir o seu rico território.
Saltitando, de um lado para o outro, em
tom cómico, não deixam escapar nada,
que se encontre ao seu alcance,
sabendo no entanto, que as flores têm
de ser protegidas, e, acaso, avancem,
para uma delas, o resultado é imediato,
e a toque de pau, são espantados, com
toda a perseverança, para fora dali.
Meio assustados, com o gesto repentino,
vejo-os pousar, mais além, por sobre as
varandas das janelas ou no cimo, de uma
árvore, ali por perto, e, como que
desdenhando, de nós, a plenos pulmões,
põe-se a cantar, deliciados, como se
isso fosse mera rotina, para eles, ossos
do ofício, habituados de há muito, a lidar.
Tão cedo não se aproximarão, agora que
a água sacia a terra, indo de encontro à
raiz mais profunda, fortalecendo as várias
flores, que abundam, por completo, o
jardim, de uma vida, que tanto envaidece,
quem junto dele reside, podendo assim,
de manhã à noite, desfrutar de suas cores
e mil fragrâncias, espalhadas pelo vento.
Mas mal me afasto, dando, por findo, o
trabalho, do dia, e, seguidamente, me
perco, por entre a esquina, do prédio,
ouço nas minhas costas, um enorme
clamor, vindo de todos os lados, e, a
natureza, recomeça seu ciclo imparável,
trazendo, às dezenas, pássaros famintos,
invadindo o jardim, em bandos solitários.
Jorge Humberto
21/01/09