Entra em casa, silenciosamente, fechando a porta levemente atrás de si. O cheiro a rosas da casa que voa sorrateiramente no ar entra-lhe pelo nariz, pé ante pé, ela caminha até ao quarto sem fazer qualquer barulho, mesmo não estando ninguém em casa. Uma vez com a porta fechada, pousa mala e descalça os sapatos, retira as bugigangas do pescoço e cabelo e suavemente senta-se na cama. O sorriso que trazia consigo na cara, é rapidamente removido, acabando com a farsa de um dia feliz, ela sabia que estava mal, mas não o podia mostrar. No fundo do silêncio, começa a soluçar, e uma lágrima desce-lhe do olho, tocando levemente na pele, deslizando pela bochecha e caindo levemente nos lábios. O cheiro das rosas vem novamente, criando uma atmosfera harmoniosa de tristeza e lágrimas. Começa então a recordar tudo o que se passou, e passa a sua volta, aquela tristeza profunda devia-se não se devia ao mau tempo, nem notas, nem mesmo à família, mas sim a uma só pessoa, a alguém que ela não tinha coragem de revelar os seus pensamentos. Esse alguém que ela via de longe, esse alguém que a matava silenciosamente por dentro, esse alguém com quem olhares era trocados vezes sem contas, talvez sem sentido. Olhares que por vezes eram longos, ou curtos e tímidos. Passando as mãos pelo cabelo, recorda-se do sorrisos disfarçados quando o via chegar, fazendo com que reparasse que ela ali estava. As vezes que falou mais alto, que andou mais rápido para que se tornasse visível aos seus olhos. A dor atravessara-lhe a espinha seguida de um arrepio. Pode ser que tais ideias tenham resultado, mas ela não sabia, pois ler a mente dos outros era algo que não conseguia fazer. Rindo-se baixinho de todos os momentos passados, um sorriso mínimo vem-lhe à cara, voltando a desaparecer rapidamente. Mais um dia passara, e ela no seu quarto, no seu mundo tenta construir uma barreira que a façam sentir-se protegida dele. Serenamente deita a cabeça no travesseiro. Dormindo um sono não infinito, nem profundo, mas um sono que a façam esquecer por momentos toda aquela agitação que se passa na sua mente. Talvez com o sonho, onde pode ser livre, a faça voar sobre tudo alterando o que é mau. Voando sobre pensamentos inúteis.
Vanessa Pais