No aperto do tempo,
no cerco das horas,
demoram-se tentações e elevações;
mecanicamente
raspam-se feridas do rosto com lâminas duplas,
pele rasgada e untada que não cura,
não quer curar, não pode curar,
necessita de sangrar,
talvez para se purgar...
Um corpo pesado demais para a leveza interior
arrasta um espaço que não lhe pertence, vestindo fraques e tiques de quem anda por ter que andar.
Belas coisas passam pelos olhos devolutos,
mas nada disso importa;
radar que roda atento sem tocar em nada,
porque nada importa;
mãos que se quedam em bolsos mudos
porque nada merece ser tocado,
(só talvez aquela nuvem de chuva).
Passos em pontas para não se ferirem as pedras
com os punhais da intranquilidade.
Barco fantasma que aporta ao seu destino
cansado de navegar a solo
em monólogos receados
porque o tempo aperta e as horas acercam.
A opacidade nos gestos,
irremediavelmente soberbos nas suas últimas apresentações,
resvala nas luzes dos olhos,
que cercam o tempo e apertam as horas...
num circulo humano.
NR