O que é isso, normal, pergunta a criança, Bem, normal é aquilo que toda a gente é, anormal é aquilo que poucos são, E é bom ser normal, É, se quiseres estar onde está a multidão, se te quiseres apagar dentro dela, aí é melhor, o que se vê de fora é igual entre todos os que vivem assim, não há contornos teus que saiam do corpo, o que se vê não és tu e ninguém sabe quem és, nem mesmo tu, tudo em ti fica molinho, amaciado, pareces uma bola de sebo, redondinha, colada a outras dez mil bolas de sebo, formando uma bola gigantesca onde ninguém é alguém, onde todos os alguéns são ninguém, Isso parece assustador, diz a criança, Não é, habituas-te depressa a não ser ninguém, a viver para nada, habituas-te a caminhar para lado nenhum, a morrer só porque sim, Eu quero ser anormal, Tu és anormal, meu filho, e digo isto com todo o orgulho, as palavras enganam, é para isso que foram inventadas, se todos vivêssemos em silêncio não havia mentira, crime ou castigo...
Não precisas de responder às tuas questões. Precisas é de questionar as tuas respostas.
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