e sempre sempre que te pensava ... via-te num caminho lilás
na tua concha que difarçavas com ondas e areia
numa sombra te via...
quando o olhar já não queria dizer mais nada
sentia-te preso
não consiguindo abrir-te
tentando com uma faca ...com os dentes
partir a concha
essa concha que mesmo de sorriso aberto mantias fechada
não podias
não querias
.... nem eu sabia porque a queria abrir...
não te conhecendo por não deixares
ía descobrindo o que conseguia ver para lá desse teu caminho
tentando perceber ..acreditando que agora já estarias mais livre da dura concha que te encerrava
..........................................
talvez hoje não tivésse feito assim...
como fiz e como tu previas que faria
talvez hoje eu te deixásse tranquilamente fechado na concha ..naquelas simples conchas que eu apanhava na praia....
talvez hoje eu tivésse deixado que seguisses esse caminho lilás...
não te encontrava
talvez hoje eu tivésse percebido que a liberdade que não sabias usar ..era mais do que ar,
era mais do que luz
era mais do que se pode ter para viver
talvez hoje eu não tivésse deixado que deitásses "coisas" fora
tuas "coisas"
nossas "coisas"
teria percebido que deitavas fora tudo o que não querias
materializando tudo num acto que mais tarde nada seria...
esperando assim que dentro da tua concha ficásses mais tranquilo..
talvez hoje eu tivésse prcebido que só querias voar
talvez hoje eu te tivésse deixado ser quem querias ser
mesmo não sabendo o que serias...
.....................
"não te preocupes.... minha querida...não vais ter nunca mais de voltar lá abaixo!"
"eu trato de tudo..eu faço a mudança toda e trago as "coisas" para cima"
passava as suas mãos na minha cara...
eu ouvia sem conseguir perceber o que deveria fazer,,....
não querendo eu voltar lá...aquela casa onde as gaivotas me apareciam todas as noites na minha varanda para sossegar a solidão
não querendo voltar aquela imensa casa....
olhava-o... e apática dizia que sim...
mesmo sabendo como se iria sentir lá sozinho
mesmo sabendo o que iria sofrer ao acabar com tudo o que era lá...
mesmo sabendo que desejava ...voltar a viver uma outra vida qualquer
mesmo sabendo que não sabia qual a vida que queria viver
deixei que fosse só...para arrumar tudo
para se arrumar
para abrir a sua concha
mesmo desesperando
estaria melhor
" sim...está bem...vai sim... eu não sou capaz de lá voltar..."
dizia-lhe ...afastando tudo o que me trazia aquela imensa varanda
onde a minha Lua Amarela se calhar ainda por lá espreitava
foi
decidido
demasiado decidido , demasiado confiante nem sei de quê
tanto eu sabia o que ele precisava de estar só...
foi e arrumou tudo como soube na altura
arrumou tudo como lhe fez sentido
abrindo a sua concha só fez o que lá de dentro ,,,de dentro dessa concha ... lhe disseram para fazer....
eu esperava que voltásse sem dia nem hora para voltar
mais uma vez continuava assim á espera
desta vez com esperança de que tudo iria começar de novo..
no novo ano ...nesse ano novo
não desfazendo a teia..não desfazendo o seu novelo...não entrando na sua concha
na concha onde se escondia
nem espreitei...
esperei sem perguntar....
chegou dias depois...
demasiados dias depois...
" já está a mudança feita!" disse-me sorrindo
"agora vamos começar tudo de novo! "
dizia euforico...e inseguro
"sim... e onde estão as coisas...?"
peguntava não adivinhando a resposta
"as "coisas" estão todas no lixo...!!!"
"deixei tudo lá em baixo no lixo....sabes aqueles contentores que estavam ao pé de casa? ...ficaram cheios de sacos pretos de lixo...."
"mas ...deitás-te tudo fora ?"
eu sorria nervosa
baralhada sem saber se deveria ficar contente ou não....
"sim...foi tudo para o lixo...são só "coisas" não vamos precisar daquilo para nada!"
"andamos agarrados a "coisas"..."
sorria-me e olhava-me com os seus olhos sem cor...
sorri...de lágrimas a saltar dizia-lhe que sim...
são só "coisas" vamos começar tudo de novo
agarrada com força a tudo o que eu pensei que tudo quizésse dizer..
esqueçi as "coisas"
afinal nós eramos a vida ..
as "coisas" não....
e....sem os nossos livros ...as nossas músicas...as nossas mobílias....íamos criar outros quereres
...íamos ter outras "coisas"
feliz...senti-me feliz
porque ele tinha deitado fora todo o meu e o seu sofrimento
não reparei que se fechava mais uma vez na sua concha
que eu não abria