SOU UM RELÓGIO MARCANDO MEIA HORA
SOU A METADE DA METADE DIVIDIDA AO MEIO
SOU NADA SOMADA E DIVIDA POR DOIS
SOU ASSIM MEIO SIM MEIO NÃO, MULTIPLICADO POR ZERO
SOU UM RIO SECO, PARTIDO, AGONIADO E SUANDO POEIRA
SOU O FETRO GERADO NO CORAÇÃO E O PULMÃO DO SENTIDO
SOU DOIS DOS LADOS DA ESTRADA, QUANDO VOU E QUANDO VOLTO
SOU O ALTO E O BAIXO DA VIDA, NO TREM PARADO NA ESTAÇÃO
SOU UMA NOITE MISTURADA COM O DIA, BUSCANDO LUZ
SOU, DE VEZ EM QUANDO, O MEIO DO DIA NO MEIO DA NOITE
SOU A ÁGUA QUE SE QUEBRA TODA NO TOMBO DA CACHOEIRA
SOU ESTA ÁGUA QUE TOMA RUMO CERTO E SE JUNTA DE NOVO
SOU O PONTO DO PONTO MAIS DISTANTE DA TERRA, SEM FREIO
SOU O MEDO QUANDO FOGE E SAI CORRENDO SEM DESTINO
SOU O FOGO QUE MESMO APAGADO QUEIMA E MALTRATA
SOU O TODO DE UM CORPO VAZIO CHEIO DE NADA, DE AR
SOU A MÃO VAZIA ESPERANDO UM APERTO DE MÃO URGENTE
SOU A FACA QUE PERDEU O CORTE E NÃO SE CANSA DE MATAR
SOU O ESTILHAÇO QUE MARCA NA PAREDE O DESENHO DA PAZ
SOU UM OLHAR PARADO BUSCANDO ENXERGAR SUA AMADA
QUANDO SOMO A METADE DA METADE E MULTIPLICO POR DOIS
QUANDO SOMO NADA COM NADA ENCONTRO O SENTIDO
QUANDO SEGURO NAS MÃOS A QUEDA D’ ÁGUA DA CACHOEIRA
QUANDO TRAGO P’RÁ PERTO O PONTO MAIS DISTANTE DA TERRA
ENCONTRO VOCÊ E MESMO ASSIM FICO SÓ, SEM VOCÊ
TALVEZ ME ENCONTRE E MESMO ASSIM NÃO EXISTO
ESTAMOS LIGADOS, ATADOS, UNIDOS POR ESSE NÓ
QUE É A DISTÂNCIA E A FALTA DE AMOR ENTRE NÓS
José Veríssimo