Abri a velha gaveta
E fiquei a olhar todo o meu passado
No ar, a voltar,
Na caixa de música
Que pus a tocar.
De lá, sairam alados,
Os sonhos, as traquinices,
Desejos entusiasmados
Do tempo da meninice.
No ar, rodopiam as saudades
Das flores que no campo perfumavam
Meu corpo,quando brincava...
Ouvia ainda o ribeiro
Com águas tão cristalinas,
Que nelas se viam ao espelho
As imagens de menina.
Descobri lá alguns versos,
De amor, de felicidade,
Pois os dias mais perversos
Não existem nessa idade.
Era feliz!
Pobre, no campo vivia,
Mas tinha o que sempre quis,
Pai, mãe,irmãos,
Nossos risos cristalinos,
O prado para brincar
O ceu azul para olhar,
Ao longe o toque dos sinos
Convidando-me a sonhar...
Que belas recordações
Me trouxe aquela gaveta,
Não a quero mais fechar...
Já vivi tempo demais
E cumpri a minha "sina",
Vivi tantas emoções
E mesmo com esta idade.
Com, ou sem felicidade,
Nos sonhos que ainda sonho,
Continuo a ser menina !...
Célia Santos
Célia
Setúbal