manhã
paulo monteiro
a rua estreita se estende
como serpente ferida
e os homens caminham nela
como motores sem vida
as chaminés elevando-se
nessa manhã nevoenta
mostram formas tão estranhas
de bichos enormes indo
para o velho matadouro
dos que não têm dinheiro
só força de produzir
nessa manhã como em sonho
e como se sonha em vão
passam os homens sozinhos
como sempre vão passando
levando a marmita simples
com seu feijão e arroz
é uma manhã como as outras
como chicote assassino
corta o vento da manhã
como policiais espiam
os olhos dessa manhã
feijão e arroz nas marmitas
feijão e arroz nada mais
desenha a fumaça baixa
pontos trágicos em torno
dos vultos que se vão indo
com suas formas estranhas
para o velho matadouro
dos que não têm dinheiro
só força de produzir
levando em suas marmitas
feijão e arroz nada mais
(do livro inédito eu resisti também cantando)
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos