Desmascaro a minha vida,
A tua, a do mundo inteiro,
Aquela que vai e vem
Que nada nos traz de novo.
Pinto no céu as cores do povo,
Da vergonha que ninguém tem
Do ovo que nasceu primeiro,
Da inocência perdida.
Calo-te bruscamente com silêncio puro,
Com olhares desconfiados e marotos
Daqueles que se atiram no engate,
Sinuosos, falsos, maliciosos.
Perco-te em jogos viciosos
No dissabor triste do meu desgaste...
Baixo a cabeça e vejo os sapatos rotos,
Estou sem dinheiro, teso, duro.
Falo-te durante horas com estas mãos
Numa singular linguagem de afectos,
Foges-me esguia por entre os dedos
Como se fosses algo que não conheço.
Sei quem és e não te mereço,
Não choro... apago os meus medos
Nas nossas vidas de livros abertos,
No romance dos nossos corpos sãos.
Com o pensar contorno os teus lábios,
As rugas que ganhámos a rir,
As brigas que nos fizeram odiar,
O teu pensamento decorado num minuto.
Fazes-me sentir homem com ar de puto
Daqueles reguilas que querem amar,
Mas que até um beijo têm medo de pedir.
Passado que enche alfarrábios.
Lembra-me qualquer dia como fomos,
O que já fomos e ainda queremos ser.
Faz-me ser o que queiras que eu seja,
Um sonho, uma flor no teu jardim,
A vida na tua história sem fim,
A espuma no teu copo de cerveja.
O que queiras, mas faz-me viver,
Mostra-me o quão ingénuos somos.
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma