O coração da maioria das pessoas é tão apertado que a única coisa que realmente lá cabe é o seu pequeno umbigo. Dois centímetros quadrados de alma sufocados por uma única palavra: "Eu". A maioria das pessoas não são pessoas, são pedras. Não andam, arrastam-se. A semelhança entre elas e verdadeiros seres humanos é meramente biológica. Fazem parte de espécies diferentes, unidas por uma intrigante semelhança física, mas os seus corações descrevem órbitas tão distantes entre si como galáxias no firmamento. É como comparar flores com fotografias de flores. Há uma sugestão de parecença, mas umas vivem e respiram como filhas do divino, enquanto outras nunca nasceram. Fingindo-se de vivas, não passam de corpos vazios, pretendo ter um sentido.
Custa-me olhar essas pessoas, falar com elas, fingir que sinto por elas qualquer tipo de ligação, de afinidade. As semelhanças entre nós páram no corpo. As almas são de seres diferentes. Sei que as vossas acções não mancham as minhas, os vossos pecados não conseguem subir ao nível do meu coração. Somos todos filhos, pequenos e frágeis, mas o nosso Pai não é o mesmo.
Não precisas de responder às tuas questões. Precisas é de questionar as tuas respostas.
Texto escrito aquando da minha colaboração com a Amnistia Internacional.