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Rowena

 
Um flébil sino badalava no cimo da catedral. Impassível, apenas o silêncio respondia ao seu apelo.
Lá embaixo, passos longos e descarnados ecoavam na calçada da praça. Era ela.
Num segundo, estava à sua frente, mas, não me viu. Indiferente, cruzou comigo e nem sentiu minha presença. Seguiu num passo vacilante por entre as vielas mal iluminadas de Bucareste.
Os sonhos não eram mais os mesmos, tinham se perdidos no meio do caminho. Parou e olhou furtivamente para os lados, não viu ninguém, então, suas mãos remexeram nervosas dentro da bolsa. Procurou algo e o encontrou. Era um cachimbo. Por um momento, hesitou, mas seguiu em frente e o acendeu, e num pequeno estalo, junto à ingenuidade tênue, a fumaça sorvida lentamente esvaiu-se dentro da sua cabeça. Seus lábios se contraíram num meio sorriso nervoso. O coração acelerou. A temperatura do corpo subiu. A sensação de euforia foi momentânea. Em pequenas gotas, o sangue lhe escorreu pelos lábios e se misturou ao batom vermelho, todo borrado.
Tentou sorrir, mas o sorriso se transformou numa careta horrível. Era, em si, uma caricatura, pensou. Então, se lembrou da época em que fora feliz. Sim! Nessa época, os sonhos sobrepujavam a realidade e sonhar era natural. E ela sonhara! Por Deus, como sonhara! Eram sonhos tão vivos! Sonhos refletidos num olhar intenso e brilhante, porém, até os sonhos mais intensos morrem, ou se perdem com o tempo. Balançando a cabeça, afastou as lembranças, cabisbaixa.
De longe, eu a observei, e me surpreendi. Fitei seus olhos e vi que seu olhar não era mais como aquele de antigamente, não! O olhar que vi agora ia morto! Ia turvo num caminho sem volta!
Começou a chover. Em gotas cristalinas, a chuva misturou-se a solidão que lhe ia esquecida nos escaninhos de uma existência vazia. Agora vivia no limiar da loucura.
Vi-lhe a feição indefinida, ir assim, envelhecida pelo tempo que não lhe pertencia mais. Não podia dispor do tempo de outrora e não possuía mais o tempo de agora, daí se entregava às vicissitudes da vida.
Seguiu entorpecida, alheia aos acontecimentos, de volta a catedral. Sua tez era pálida. Seu olhar, apático. Um quê de desilusão surgiu nos seus olhos cansados.
Em passos vacilantes subiu até o alto da catedral, e observou a praça, lá embaixo, e por um momento ficou ali, parada, olhando vagamente, sem nada dizer.
Esse fora o caminho que escolhera. Essa fora a única saída que encontrara para si, então, lhe tocando ternamente a fronte, cingi-lhe o corpo, suavemente. Assim, abraçados, saltamos para o nada! E tudo se acabou...

(tanatus – 26/10/2008)
 
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