as suas palavras soavam como goteiras....como gotas pequeninas
com um barulho pequenino
"se calhar ...agora ...quero viver sozinho...."
---se calhar??---
depois de tudo
se calhar
de noite .... ao ouvir .... tinha que decidir
que mais não
mais do mesmo
sempre mais do mesmo...
e depois de tudo arranjado
depois da casa nova já nesta cidade
no lugar escolhido...
com as tais coisas novas
que nos iriam fazer felizes
depois de tanto correr...
um dia ...assim vindo do nada ...uma noite qualquer...
palavras como gotas no meu ouvir...
"se calhar agora...quero viver sozinho...nunca vivi sozinho...se calhar ía ser bom para mim...."
nem percebi se naquele olhar se espelhava a consistência das palavras
dizia-o numa espécie de torpor
de quem quer zarpar com âncora
--- não está seguro do que diz....mas diz! não importa o que tu pensas..o que tu sentes...ele diz porque quer dizer.... só isso sem pensar em mais nada, sem pensar que degolava sonhos a sangue frio...----
dizia e ...só dizia...
--- mas porque me diz isto agora...? até percebo que queira passar pela experiencia de estar só.... verdadeiramente entregue a si mesmo.... até lhe pode fazer bem ---
sem palavras....
"tens a certeza que é isso mesmo que tu queres...?"
pergutava-lhe com terror e desespero nos meus olhos
ele de olhos baços e distantes ....
" sim tenho. Se quiseres eu amanhã procuro um sítio para ir...."
sem convicção
penso que adivinhava a minha resposta
"não! eu vou ...e vou já! "
de repente arrumei tudo
e eu sem perceber a "arrumar"
de repente arrumei todas as minhas coisas essenciais