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LAR - SERÁ CASTIGO?

 
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Será Castigo?

Logo de manhã, por volta das oito horas, começam a chegar os companheiros para um Passeio Almoço Convívio e Lanche... Os destinos são diversos, as companhias variadas. As pessoas ocupam os seus lugares previamente marcados e pagos.

Cumprimentam-se os conhecidos, são dadas as “boas-vindas” aos iniciados. Fica então pronto o autocarro para o início de mais um passeio de Domingo.

Ao microfone ouve-se a guia ou o motorista saudar os passageiros e anunciar o local da paragem para o pequeno-almoço. A hora depende, da fluidez do trânsito.
Se rumamos a Norte, a paragem é em Aveiras.

Normalmente escolhem o restaurante que mais garantias dá em espaço sanitário, para prover às necessidades mais comuns de quem anda em viagem. Por vezes, são tantos os autocarros, em Aveiras que se torna muito difícil em 30 minutos, conseguir tomar uma “bica” e resistir... na fila do WC.
As mulheres estão sempre em maioria... por isso, depois que os homens se despacham, as casas de banho deles são invadidas por elas que nunca se cansam de gabar a higiene que encontram no WC masculino, em contraste com o “chiqueiro” que dizem ser o feminino.

Aliviadas as pessoas e reconfortados os estômagos, voltam a ocupar os seus lugares, havendo nova contagem e conferência, não vá alguém ficar em terra, ou embarcado em autocarro alheio.
A entrada no restaurante, é sempre por volta das 13 horas, por isso se a distância a percorrer for pequena, temos direito a paragens em locais onde se podem comprar os mais variados produtos. Nas Caldas da Rainha há fruta, doçaria e artesanato. Nas Salinas de Rio Maior, há quem se abasteça de “sal-gema” até à próxima visita. Na Malveira há “trouxas".Em Torres Vedras pastéis de feijão. Há pão-de-ló no Alfeizerão e bons “pecebes” na Nazaré. À entrada no restaurante, são servidos os aperitivos habituais. Depois cada um se dirige para a respectiva mesa, onde os aguardam mais umas “entradas” (chouriço assado em rodelinhas, tapas de queijo, rolinhos de fiambre. pedacinhos bacon, pão azeitonas, croquetes...pasteis de bacalhau, e em certas localidades: orelheira de porco moelas e “pipis)
No mesmo grupo costumam encontrar-se as mais variadas tipologias de turistas de Domingo. Há os que vão para encher bem a barriga: Pegam na lista que a Agência anexa ao bilhete e conferem para ver se vem tudo para a mesa.
Em maioria estão sempre as viúvas: Há as conformadas e as inconformadas.
As primeiras já perderam todas as ilusões e limitam-se a “viajar por viajar”, pouco se importando com a “linha”, comem de tudo, aproveitam bem os vinhos e repetem as sobremesas. O Baile não conta.
As inconformadas, preocupam-se com a “linha”, comem moderadamente e estão sempre disponíveis para dar um ”pezinho de dança”, desde que o pretendente reúna as condições, que em seu entender valha a pena aproveitar. Foi com espanto que vi duas senhoras recusar sucessivamente dois convites para dançar, desculpando-se com a mesma frase: “...Desculpe, mas não danço porque o meu marido está lá em baixo!
”Na verdade havia outra festa no piso inferior, mas nunca as tinha visto acompanhadas, nem lhes conhecera os maridos...Quando fui ao WC um dos “rejeitados” dirigiu-se a mim com a maior correcção e perguntou se era verdade elas terem os maridos lá em baixo.
Respondi que não sabia, mas ia tentar saber. Foi então que me disseram que “não iam com a cara deles”, e que os maridos estavam em baixo, no Cemitério....eram ambas viúvas há mais de 15 anos...
Quando nos sentamos á roda de uma mesa de dez pessoas, há sempre alguém mais comunicativo que conta a sua vida, descreve as habilidades de um netinho, as diabruras de um cachorro e as “ ronrronices” de um gato.
Há as que vivem sós e são usadas pelos filhos que lhes entregam os netinhos, explorando-lhes a paciência e experiência em proveito próprio. Quando têm uma folga, vão às Agências e marcam um passeio de autocarro, para quebrar a monotonia, descansar o cérebro...aliviar os braços. Já vi uma senhora, Avó assumida, que trazia num braço as marcas dos dentes de um neto que descarregava nela as birras que os papás não se dispunham a aturar, e ai dela que não deixasse o menino morder:
SERIA ENVIADA PARA UM LAR DE IDOSOS, por Castigo.

Há retalhos de vidas que o destino esfarrapou e relatos de sentenças judiciais que fabricaram divorciadas.
O eterno desprezo com que os filhos lhes pagam as noites mal dormidas na meninice, a protecção na adolescência, um bom emprego num banco ou o seu ingresso numa empresa de prestígio, são as lamentações mais comuns.
Mas também há quem afirme o contrário e dê graças pelos filhos que Deus lhe deu.

PoetaSenior


José Mota

PRIMEIRO PRÉMIO EM PROSA
DOS SEGUNDOS
JOGOS FLORAIS
DO
LAR DO SBSI/SAMS
 
Autor
PoetaSenior
 
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