dois tempos
paulo monteiro
há tempos eu fui lírico e sofria
as dores irreais que concebia
hoje esqueci a lira
aliás guardei-a ao canto da sala
saí pelas ruas e sentei-me
no mesmo banco onde sentava outrora
e lembrava uns sonetos de leôni
e a vida passa efêmera e vazia
um adiantamento eterno que se espera
numa eterna esperança que se adia
eu não fazia nada nesse tempo
tinha casa comida escola tudo
hoje cresci e tenho apenas força
que movimenta bens alheios
sentei-me neste velho banco
e não pensei em mim pensei nos homens
que vivem como eu vivo
compreendi mendes campos
no brasil na argentina
usa cuba frança china
flor agreste da campina
só povo reinará
(do livro inédito eu resisti também cantando)
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos