o canto
paulo monteiro
o canto terá que ser
à moda do cantador
se não o canto que canto
não terá nenhum valor
por isso canto sem medo
o medo que a gente sente
ou a gente mata o medo
ou o medo mata a gente
canto o livre que se encontra
na minha imaginação
é canário que se bate
contra as grades do alçapão
o pão que falta nas mesas
e se acha numa somente
ou a gente mata o medo
ou o medo mata a gente
pelos sertões e cidades
a abolição não chegou
se chegou ficou à porta
por ser dada não entrou
só quando for conquistada
reinará eternamente
ou a gente mata o medo
ou o medo mata a gente
sempre há mais pedra e pau
que granada e mosquetão
sempre há mais gente sem
que tendo arma na mão
com sangue também se escreve
com nosso sangue inocente
ou a gente mata o medo
ou o medo mata a gente
(do livro inédito eu resisti também cantando)
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos