- Uma bomba? – perguntou atônita.
- Sim! Uma bomba! – respondeu exaltado.
Ela ouvira bem o que aquele casal dissera. Não poderia ter se enganado. À pergunta da mulher, o homem respondera, confirmando em bom tom que tinha uma “BOMBA”, e com certeza estava naquele embrulho marrom que estava sobre suas pernas. Tinha que avisar a polícia! Eram terroristas querendo explodir o shopping onde passeava com suas netinhas!
- Vamos meus amores, a vovó tem que fazer uma ligação – Pegou as duas pelas mãos e, se dirigindo ao telefone público mais próximo, discou o número da polícia.
- Alô, é da polícia? – perguntou.
- Sim, em que podemos ajudá-la? – respondeu uma voz.
- Eu quero fazer uma denúncia – segurou um pouco a voz, levada pela emoção, e prosseguiu – Tem uma bomba aqui no shopping!
- Bomba? – perguntou surpreso o policial.
- Sim! Uma bomba! – será que todos estavam surdos.
- Muito bem, quem está falando, por favor?
- Eu – respondeu lacônica.
- Sim, isso eu sei, agora poderia me dizer o seu nome e o local onde se encontra – disse o policial, com paciência.
- Escuta aqui! Eu estou ligando para avisar que tem uma bomba que vai explodir e você me pergunta quem está falando?!
- É esse o procedimento padrão, por causa de trotes – redargüiu o policial.
- Tudo bem, tudo bem. Meu nome é Anastácia e estou informando que tem dois terroristas - um homem e uma mulher - aqui no shopping do Passo, onde estou com minhas netinhas, e eles disseram que estão com uma bomba dentro de um pacote e que vão explodir o prédio!
- Sim, senhora, eles fizeram alguma exigência?
- Exigência? Ora, o senhor deve estar de brincadeira comigo!
- O procedimento, minha senhora, estamos seguindo o procedimento – falou o policial.
- Sei! Será se dar para você deixar o procedimento de lado e vir para cá, que as coisas estão começando a esquentar!
- Esquentar, como assim? – inquiriu o policial
- Ah! Meu São Crispim, você é estúpido, por acaso? Eu estou lhe falando que a situação aqui está esquentando, que a bomba está preste a explodir e você ainda fica com gracinhas!
- Desculpe senhora, mas eu não estou com gracinhas, não – disse o policial, e prosseguiu – O que está esquentando é a situação ou a temperatura aí do local?
- A situação! Mas, o que tem há ver a temperatura com bomba?
- Minha senhora, tem tudo há ver. A temperatura influência no mecanismo da bomba, então, temos que saber como está a temperatura, para informamos o esquadrão anti-bomba de que a bomba pode explodir a qualquer momento e que eles precisam se apressar. A senhora sabe como é o tráfego...
- Tráfico? Quem falou de traficantes! Eu estou falando sobre uma bomba e o senhor me vem com tráfico! Onde já se viu isso!
- Calma minha senhora, eu estou falando de tráfego, não tráfico, entendeu? Estou falando de carros e não, drogas!
- O quê? E ainda está me tratando mal! Você acha que eu sou uma droga! Mas isso é um ultraje!
- Minha senhora, está me ouvindo? Acho que o seu telefone não está funcionando perfeito!
- Prefeito? É, é melhor o senhor avisar mesmo o prefeito porque nós, contribuintes, pagamos nossos impostos e não precisamos de policiais mal-educados na polícia e ainda por cima, que não acredita na gente! E venham logo, porque o casal se levantou para ir embora.
- como?
- Eles foram embora e deixaram à bomba meio que escondida sobre o banco! Deve está pronta para explodir! Manda logo alguém para cá, meu senhor!
- Está bem, senhora, vamos acionar todas as viaturas e eles estarão aí num piscar de olhos, está certo?
- Sim! Eu vou ficar esperando aqui por perto.
Estava aborrecida com a polícia. Onde já se viu! A pessoa liga para a delegacia, e tem que responder a um monte de perguntas idiotas, enquanto isso, os terroristas vão embora abraçados, como um casal de namorados. E agora ela ficava ali, olhando para uma bomba, preste a explodir e com suas netinhas ao lado. Mas fizera sua parte e ficaria aguardando lá fora o desenrolar dos acontecimentos.
Ouviu sirenes por todos os lados. A polícia chegou bem a tempo, isolando o local, e ela se dirigiu até onde eles estavam. Identificou-se para os policiais e disse onde o pacote se encontrava. O policial agradeceu e avisou o esquadrão anti-bombas. Eles se aproximaram todos equipados, com o robô caça-bombas na vanguarda. Enviado assim, o robô, este se aproximou da bomba e passou a examiná-la, como não foi ouvido nenhum tic-tac, num leve toque dos braços, percebeu que a forma física da bomba era meio flácida. As leituras indicavam que fora confeccionado, possivelmente, com C-4, um potente explosivo. Como a bomba resvalara para uma reentrância, e não tinham como tirá-la de lá, os policiais resolveram explodi-la ali mesmo. Isso ocasionaria um grande estrago, mas pelo menos, ninguém se feriria, pois as pessoas tinham sido evacuadas.
Trabalhando com o robô, os policiais colocaram um botão de disparo e se preparam para detonar a bomba.
Quando estava tudo pronto e o policial ia apertar o botão, ouviu-se um grito.
- Não! Não façam isso! - gritou em uníssono um casal de namorados!
- O quê? Não está vendo que isso é uma bomba! - respondeu um policial, impedindo a passagem.
- Sabemos sim, fomos nós que a esquecemos aí. Viemos pegá-la de volta.
- Vocês?! Então vocês estão presos! – disse o policial e, auxiliado por outro, prendeu o casal.
O homem então gritou mais alto ainda.
- Mas nós não fizemos nada! Deve estar havendo alguma confusão! Vocês não estão entendendo? Isso...
Não lhe deram tempo de completar a frase. Nessa hora, o homem do esquadrão anti-bombas apertou o botão de disparo e ouviu-se uma explosão. E, quando a poeira baixou, os policiais viram que todas as lojas ficaram salpicadas por uma substância pastosa, de cor marrom, e sentiram no ar um cheiro adocicado, como se fosse de chocolate, e foi nesse momento, que os todos perceberam que a bomba, era de fato, uma BOMBA MESMO! Só que era uma BOMBA DE CHOCOLATE!
Era o doce presente, de um homem apaixonado, à sua namorada...
(® tanatus - 11/01/2009)