Crónicas : 

a guerra é a guerra

 


Enquanto bruxos e cartomantes enganam gentes que gostam de ser enganadas com palpites de previsão sobre o que será o ano de 2009, o mundo tem agora com que se entreter nas horas vagas.

Então não é que a guerra começou e ninguém deu o apito inicial! Pumba, foi logo a abrir milho, aproveitando os saldos das munições.
Uma pergunta: terá Israel ou a Palestina apoio de países aliados, em que todos eles se irão baldar às orações para atiçar os Deuses, e estes, jogarem a favor dos seus apoiantes?

Enquanto isso, no sigilo dos preparativos, num descampado ou numa gruta, treinam-se bombistas, obrigando-os a ter de ouvir o Cláudio Ramos, puxa-se lustros às canhotas, os mísseis nucleares são afiados nas pontas, os discursos aumentam para tons escaganifobéticos, sacia-se os cães com Vinho Borba, que é autêntica pólvora nos intestinos, etc.

As pessoas do mundo, que nada têm a ver com as birras dos outros, aproveitam os seus tempos livres em palpites de sobre quem sairá vencedor nesta guerra.
As apostas superam o número de apostadores do totobola, quem irá ganhar a batalha não se sabe, sabe-se apenas que não haverá empate para ninguém, nem muito menos árbitro algum português irá meter o nariz.

Mas, espera-se que haja um bom combate, isso sim, quantas mais casas destruídas, inocentes tombados, sangue inútil pelo chão, melhor. E os construtores agradecem.
Alguns suspiram: já fazia falta um guerrinha para animar os dias cinzentos!

As guerras têm a vantagem de tirar a monotonia das conversas do costume dos fregueses, tirar o stress do trabalho, já ninguém ferve com as derrotas sucessivas do Benfica, o insulto aos árbitros já não alimenta o ego, ou, espancar a mulher porque um badameco qualquer falhou um pénaltie, já não dá "pica".

É urgente uma guerra para que possamos brilhar. Assistir a uma morte em directo pela T.V. faz-nos sentir intocáveis, vivos, uma sensação que Deus nos protege em exclusividade. Enfim, gostamos de falar de morte porque isso faz-nos sentir vivos.

As pessoas já se habituaram a que uma bomba lhes passe por cima da cabeça e vá bater quatro casas adiante. É pura adrenalina!
Uma guerra entre homens beijando-se como burros em que se misturam os Deuses à pancada a ver qual deles é o mais verdadeiro!

O resultado não importa, interessa é que haja um bom desafio de parte a parte, aproveitar e comer umas bifanas e beber umas bejecas e dizer: Força, vai, entra pela esquerda, dispara agora, isso, esfola!, e depois dá uma lambada no gato que não tem culpa nenhuma no cartório.

Já ninguém se aterroriza com questões nucleares. Falar em bombas químicas é como falar em mata-moscas!
Pensamos sempre que a guerra nunca chegará aos nossos bairros, fica a impressão que ela está loonge, muito looonge, por detrás de um cortinado preto, as pessoas que morrem não morrem, é tudo a fingir,são figurantes que ganham à comissão!

O Rambo entrará em acção apoiado pelos super-heróis da banda desenhada e está o caso resolvido!

Há palpites sobre a organização táctica da guerra, tipo: 3 4 3 de um lado e 4 4 2 do outro, com relatores e tudo para que não percamos uma pontinha dos acontecimentos, assim, podemos ir ao frigorífico que não perdemos nenhum lançamento de míssil.

Sei que os mais fanáticos Palestinianos estão a ponderar entrar no território inimigo com a famosa técnica do ex-jogador de futebol Zidane, à cabeçada.
Sei porque nesta altura de crise não há dinheiro para investir em bombas ao peito.
Mudando de tom e antes de me ir embora quero deixar aqui um alerta: se pensarmos que a guerra é jogada numa playstation com cada um com o seu comando, tudo à base de vírus electrónicos, treta!, pois eu vos digo, quando os aviões de combate furarem os céus e a terra tremer como uma tola,
quando as bombas abrirem valas de infinitas sepulturas,
quando se abrirem clarões nos céus,
quando os estilhaços sobrarem para nós,
quando já não houver Homens para abater e,
as crianças que assistem aprenderem todos os truques e vícios... a vida fica por aí,
e não haverá tempo para fazer piada disto!

Até daqui a uns dias se Deus quiser, perdão, se alguns senhores quiserem!





 
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flavio silver
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/01/2009 21:43  Atualizado: 10/01/2009 21:43
 Re: a guerra é a guerra
Uma bela crônica! Mas eu fico aqui me perguntando: - A partir de que momento todos nós fomos enganados ao acreditar que vindo neste Planeta, encontraríamos aqui, a procurada felicidade?? Previsões? Todos fazem, não precisam ser bruxos e/ou cartomantes; Enganados? Estão todos aqueles que acreditam que a felicidade pertence à este mundo sem precisar fazer previsões ou ler sua "sorte" nas cartas do tarô.

Se Deus quiser? Isto não seria outra enganação?

Bjos daqui.

E um FELIZ 2009 pra vc!!...rs

Enviado por Tópico
quidam
Publicado: 10/01/2009 21:53  Atualizado: 10/01/2009 21:53
Colaborador
Usuário desde: 29/12/2006
Localidade: PORTIMÃO
Mensagens: 1354
 Re: a guerra é a guerra
já há muito que a guerra não são pelos deuses, mas pelos interesses, terras e riquezas...
Foi bom lê-lo
abraço