dizem que sou poeta
paulo monteiro
dizem que sou poeta não sei não
a vida é dura demais para poesia
a vida é crua é nua demais para poesia
a sobrevivência exige inventividade
astúcia vivacidade demais para poesia
por isso o poema é duro cru e nu
se não for duro cru e nu não será poema
será uma bruxa metafísica
montando um cabo de vassoura
perdão montando uma lista de sangue
vermelha rubro fazendo estripulias
pelos fios telegráficos do vento
tenho que falar de flores de jardins de mulheres belas e sãs
mas como falar se as flores estão envenenadas
se os jardins estão sujos de lixo
se as mulheres estão sendo devoradas por elementos químicos
são flores jardins mulheres ainda serão flores jardins mulheres
então que poema existirá logicamente
que poema senhores críticos amantes de uma senhora histérico-estéril
mas de alta sociedade
então que poema existirá que não seja duro cru e nu
(do livro inédito eu resisti também cantando)
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos