Pobre, triste e desengonçada,
é a poesia dos pobres, tristes e simples.
Miserável em artimanha, desnuda,
rosário de passagens, almas, espertezas,
Essencial e geométrica, rimada, solta,
voluntária no redil da cerca quadrada.
Espoliados, oprimidos, resignados hoje,
Cegos de amanhã, em realidade
encerrados, caminhantes cansados,
Ao abandono da sorte, cruéis bênçãos.
Sementeira de campos férteis, iluminados
Da aura criadora... É o fado que lhes foje!
Entrançada, a fibra que dá voltas à ideia
Puxa o mote, em declamado devaneio.
A valsa, só ou aos pares, em rodopios,
as palavras seguem a música em volteios,
Os pés descolam o chão, seguem a língua,
A voar em espiral, infindável melopeia.
É o deserto que dá as maiores sedes,
É no Inverno que dá saudade do Verão,
É na tristeza que se recorda a alegria;
E como é bela, tão espontânea poesia!
Boa semana!
Garrido Carvalho
Janeiro '09