Miro o artesão da palavra
A suar e gastar
sonhos e empatia,
Esculpindo lentamente e dolorosamente
A arte, o verbo, o poema.
Arte, sim
Mas cartesiana,
Rotulada e enfadonha.
Métrica errônea
De um mundo sem escala.
Tentando tornar real
O que foi feito para apenas ser.
Cá estou
Livre,
Fraco e vassalo da angústia
Não aquela que fingiria ter para ser poeta
Mas a que deveras sinto
Dionisíaco
Tomado espontaneamente por algo maior
Nem sempre inteligível,
Mas sensitivo,
Verdadeiro,
Mágico.
Não há como descrever o transe
A força incondicional
Da frase pronta
Desnuda.
O eu inconsciente
Lutando e surrando,
Sangrando e cortando a carne
Do consciente coletivo.
Não escrevo poemas
Sou escolhido por eles.
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros