Vão-se me encerrados numa abóbada, os dias!
E tanto e mais, as horas...
Imergem assim, embalsamadas alegrias,
No nascer e morrer da aurora!
À sombra dos laranjais vou morrendo,
Como morrem de um ramo em flor, os sonhos!
Vou me encurvando ao vento,
Como os recurvos galhos que sustentam os amarelos pomos!
Precipitam-se, do pomar, os sonhos mais maduros,
E desesperados, vão ao chão!
E assim passo a vida, com passos obscuros,
Que traspassam à tristeza, o coração!
Ora, mas o que me é a vida assim no pomar à sombra,
Se não a dor que me dói mais!
Se não o vento que balança tão esplendida alfombra
Na fina flor dos laranjais!
Não me vem à lembrança o orvalho de um amanhecer ensolarado,
Não! O que me vem são os lamentos doridos,
Dos laranjais que perfumam a terra os campos nunca sonhados,
E os frutos nunca colhidos...
(® tanatus - 28/12/08)