Estava lá, parada, olhava as águas agitadas do Amazonas que num indômito balançar, respingava gotas translúcidas em quem vinha beijar.
Os raios refulgiam no céu enegrecido de agosto!
Um relâmpago riscava distante, e além-mais, outro!
A chuva caia e entre lágrimas de pesar vinha lhe fustigar o rosto.
Seu olhar, perdido no horizonte, seguia sereno um barquinho pequeno.
Vergastavam rebeldes, no cimo das ondas, brancas velas, enquanto, do infinito à imensidão ia e vinha seu olhar balançando na tempestuosa solidão!
No crepúsculo, a tarde se extinguia na minha saudade...
Um vento frio soprava agitado e afoito. Esvoaçava loucamente seu negro cabelo revolto, e ela, tentando afastá-lo do rosto, deixava-o solto, ao sabor do vento que soprava impetuoso!
Nesses momentos, eram como duas crianças a brincar, ora o vento vinha suave seu rosto roçar, ora fugia e sua boca umedecia e na friagem da noite queria seus lábios beijar.
Eu a observava brincar em tantos desejos secretos, em tantos beijos discretos que às águas deixava levar...
Queria ser do seu beijo mais tépido, a água-viva, a rebeldia! O beijo que nunca arrefecia! A sensualidade que soprava do mar!
Queria ser - do amor que não encontrava -, o sorriso que procurava, o eterno sonho de amar...
(tanatus – 26/10/2008)