Dois Sonetos Satíricos
de Paulo Monteiro
O Burro
A um ilustre causídico que
ameaçou processar o autor
Que eu te chamei de burro asseguraste
- E em frente da Justiça assoberbada -,
Zurrando furibundo, me ameaçaste
Com uma insulsa e insossa papelada.
Se fosses besta, assim, como afirmaste,
Por certo atacarias a patada
E não da forma estranha que encontraste,
Em tudo desconforme à burricada.
És muito mais que mulo, e tens o status
Bastante superior ao de Insitatus,
Cavalar senador de um rei cruel.
Quem te chamou de burro se iludiu,
Pois jamais a um solípede se viu
Cursar Direito, e ao fim, ser bacharel.
Burromaníaco
Ao mesmo bacharel que,
após ser convencido
de sua condição humana,
desistiu da asneira
Não te tratei por burro, pois respeito
Deveras o solípede animal,
Esse bicho que à força do seu peito
Levou progresso ao sólio senhorial.
Ignoro se por mágoa ou preconceito,
Por capricho ou recalque, em fato incidental,
Te arvoraste a ti mesmo esse direito
De protestar que te chamei de tal.
Porém se queres responder a pulos,
Orneios e patadas na porteira
Irei tratar-te, pois, sem termos chulos.
E em respeito à vontade verdadeira
Hei de ofertar-te o que é servido aos mulos:
Sal excelente e pasto de primeira.
(Passo Fundo - 2005)
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos