Paulo Monteiro
Eu quisera escrever um poema
que falasse do amor.
O amor é tão banal
que não pensamos nele
sem que nos sepultemos no lugar comum,
e tão bonito
quando falamos nele
sem que nos persiga o pecado.
Eu quisera escrever um poema
que começasse por teus pés
e subisse por teus seios
ou que iniciando em teus cabelos
fitasse teus olhos,
beijasse teus lábios,
lambesse teu colo
e fosse descendo, descendo...
até mergulhar no teu ventre
e se tornasse poesia.
E germinando em ti,
crescesse até tomar-te
a cor dos olhos e dos cabelos,
dando-nos as mãos e nos cobrindo de beijos.
Seria belo te amar,
beber tranqüilidade nos teus lábios.
Como é doce te ouvir
e ver tuas mãos conduzindo
crianças que não têm teu sangue!
Quanto é belo ver teus seios
balouçando sob a blusa,
acenando para os filhos
que teu ventre não gerou.
Peco ao pensar nas sementes
que não plantei em ti.
Peco ao me imaginar
lavrador de tuas carnes.
Meu Deus! Tu, que és amor,
por que inventaste o pecado?
por que me fazes – ao vê-la –
sentir o dulçor dessa mulher?
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos